segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Poemas ao Vento - Fernando Pessoa

Vento que passas


Nos pinheirais

Quantas desgraças

Lembram teus ais.

Quanta tristeza,

Sem o perdão

De chorar pesa

No coração.

E ó vento vago

Das solidões

Traze um afago

Aos corações.



À dor que ignoras

Presta os teus ais,
Vento que choras

Nos pinheirais.

Sopra o vento, sopra o vento,

Sopra alto o vento lá fora;

Mas também meu pensamento

Tem um vento que o devora.

Há uma íntima intenção

Que tumultua em meu ser

E faz do meu coração

O que um vento quer varrer;

Não sei se há ramos deitados

Abaixo no temporal,

Se pés do chão levantados

Num sopro onde tudo é igual.



Dos ramos que ali caíram

Sei só que há mágoas e dores

Destinadas a não ser

Mais que um desfolhar de flores.


Poemas ao vento : Fernando Pessoa

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